Infraestrutura

O impacto da crise financeira da saúde na vida de quem depende do SUS

Paciente com braço quebrado esteve quatro vezes prestes a passar pela cirurgia mas todas foram canceladas na véspera

Foto: Jô Folha - DP - Gustavo vive com receio de ficar com o braço fora do lugar a qualquer momento

A crise financeira dos hospitais tem atingido diretamente quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) em Pelotas, embora a longa espera por procedimentos de traumatologia na Santa Casa de Misericórdia seja uma questão antiga. Atualmente 260 pacientes estão na fila. Um deles é Gustavo Dutra Belo, 29. A frustração de não conseguir pegar a filha Cecília, 3, no colo, só não é maior que a de poder voltar a ativa, pois está em plena fase da vida produtiva. Mas a angústia de esperar um ano e meio por uma cirurgia, o consome. O receio de ficar com o braço fora do lugar a qualquer momento o colocou como beneficiário do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), mesmo tendo que encarar o boleto da prestação do apartamento mensalmente. Para não se endividar, deixou o aluguel e foi morar de favor.

O gatilho para o trabalhador de uma empresa de transporte e comércio foi estar internado na enfermaria da Santa Casa, fazendo jejum na espera pelo procedimentos das 18h do último dia 9 de novembro, que retiraria os fragmentos dos ossos (situação que impede de imobilizar e estabilizar o movimento no cotovelo), quando recebeu a notícia que não haveria mais cirurgia. Motivo justificado no documento de alta do paciente: não realizada por falta de tempo cirúrgico. "Não entendo isso. Acho que passaram outro paciente na minha frente, pois tinha cirurgia marcada às 16h. mas o pior de tudo, já com o emocional abalado, é ouvir de um enfermeiro que meu braço está melhor que o dele", desabafou.

Esta é a quarta vez que Belo tem a cirurgia desmarcada, sendo que a primeira foi em 10 de janeiro. "Das outras vezes, me ligaram dez minutos antes de eu ir para o hospital, geralmente às dez para o meio-dia", lembrou. O paciente teme que os fragmentos dos ossos possam atingir algum nervo. Se mexer como está, tem o risco de romper os ligamentos. Antes de buscar o SUS, foi atendido pelo plano de saúde da empresa que não cobria os R$ 17 mil do procedimento. Então, como única alternativa, caso a agenda de quinta-feira, dia 16, não se confirme a cirurgia, será acionar a justiça. "Cheguei a ser orientado a não procurar ou falar sobre a situação para não atrapalhar a relação médico-paciente. Mas isso nunca ocorreu desde que foi encaminhado", denunciou.

A reportagem questionou a Santa Casa sobre quais estratégias estão sendo adotadas para a realização de cirurgias de traumatologia diante da falta de recursos para a saúde pública. A demanda foi encaminhada à direção clínica na terça-feira e, até o fechamento desta edição, não havia retornado.

260 na fila de espera

A diretora de Atenção Especializada e Hospitalar da Secretaria de Saúde de Pelotas, Caroline Hoffmann esclarece que no ano passado a Santa Casa firmou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com a Prefeitura e o Ministério Público para agilizar a redução da fila de espera por cirurgias eletivas de traumatologia. Na época, 500 pessoas aguardavam para realizar procedimentos e atualmente restam 260 pacientes - da fila existente quando o TAC foi assinado - à espera de uma cirurgia.

"Já se reduziu bastante a fila, pois a Santa Casa vem cumprindo esse TAC, que foi uma alternativa encontrada pelo Ministério Público, Prefeitura e Santa Casa, para dar vazão à fila e que, inclusive contou com aporte de recursos do Município. A produção de cirurgias de traumato via SUS, todavia, tem sua maior parte consumida pela porta de urgência e emergência, o que torna mais demorado o atendimento das cirurgias eletivas", afirma. Importante ressaltar que diariamente entram novos pacientes na fila.

A diretora também aponta a crise financeira enfrentada pelos hospitais filantrópicos, entre os quais a Santa Casa, como fator que gera impacto na realização das cirurgias.

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